Crónicas em forma de sermões, uns patriotas outros não, tapem os ouvidos se quiserem mas abram os olhos para o Sermão!

terça-feira, março 14, 2017

Roupa linda e baratinha!

Há alguns anos um amigo disse-me que a Zara era uma das cadeias mais ricas à custa da exploração da mão de obra infantil. Desde esse dia nunca mais lá comprei nada! Comecei a estar atenta e onde quer que eu fosse eu via sempre as etiquetas. Nunca mais comprei roupa que dizia algum dos países que sabemos que têm fábricas de exploração infantil, made in china, indonesia, bangladesh, india, são algumas das que me lembro de ver mais regularmente. Contudo, nos dias de hoje está-se a tornar realmente difícil, como se nos estivessem a encurralar. A qualquer loja onde entro agora, posso dizer que ao contrário de há uns anos atrás, é raro ver uma etiqueta que diga um país que não explora crianças, mais raro ainda e em vias de extinção são as que dizem made in portugal. Lojas tão portuguesas como o próprio Continente, também têm a maioria da roupa vinda desses países! Como comprar roupa sem compactuar com estes crimes?


O absurdo desta situação chegou a um ponto que no ano passado vi peças da própria UNICEF à venda nos CTT para ajudar as crianças, com a etiqueta Made in China!!!! Não me abstive de falar, no mesmo dia envei um email à UNICEF questionando-os como é que era possível que eles mandassem fazer brinquedos e pulseiras solidárias em fábricas na China, um dos países com maior exploração infantil. A resposta deles, sem mais pormenores: "Não há exploração infantil nas fábricas chinesas. Está tudo controlado." Eu voltei a responder e já não obtive resposta deles. Pois... É fácil dizer que não há exploração infantil porque sendo ilegal é, digamos que, facilmente ocultável, contudo as pessoas que lá trabalham continuam a ser escravos, ou não? Senão como explicar os preços tão baixos? Excesso de horas de trabalho em condições perigosas e precárias e um salário de 50 cêntimos por dia? Ou grátis às vezes...

Entrei na Primark do norteshopping pela primeira vez esta semana, só para ver. Três minutos depois estava com uma dor de cabeça daquelas. Além de ser tudo apertado, cheio de gente por todo o lado, o cheiro entra no nosso sistema rapidamente, e acabamos por deixar de o sentir 2 minutos depois, só que ele fica em nós, e quem tem rinite, como eu, acaba com uma dor de cabeça. Acho que a minha tour não durou mais de 10 minutos. Foi o necessário para ver que as etiquetas são todas de países pobres onde exploram a mão de obra. Há roupa de crianças que cheiram a petróleo, algumas a borracha de pneus. Tal como na Zara, daí a Zara insistir tanto em colocar na roupa a menção "Não aproximar do fogo", pudera, aquilo é tudo altamente inflamável. A sensação que tive dentro daquela loja foi que estava numa feira de ciganos, onde se vende tudo ao desbarato, mas com o odor duma loja de chineses.

Lojas como estas são lojas que crescem facilmente à custa de pessoas que compram e não pensam nas crianças que são exploradas e escravizadas. Crianças que passam os dias da infância a trabalhar, descalças, no lixo, crianças que sorriem humildemente se lhes dermos apenas um olhar carinhoso mesmo de um segundo. Estas crianças não têm nada, nem direito a ser crianças.

É fácil comprar ali roupa, porque está sempre cheia de "oportunidades" e além disso, já está ali, já não vai mudar nada na vida das crianças exploradas, não é? É assim que as pessoas pensam para minimizar os problemas de consciência, convencem-se de que não podem fazer nada e compram. Mas é mentira! Podem fazer! Podem mudar! A forma de acabar com a escravidão é mesmo não comprar, estas crianças não trabalham porque querem! Mostrar a estas cadeiras milionárias o nosso descontentamento por contratarem empresas que exploram crianças ou escravizam mão de obra gratuita. Em 2013 uma fábrica no bangladesh ruiu do nada, uma das fábricas onde a Primark vai buscar a roupa. Morreram mais de 1000 pessoas, mais de 2000 ficaram irreversivelmente feridas. Porque estas pessoas trabalham, não só quase de graça e 19h por dia ou mais, como trabalham em edifícios sem segurança nenhuma.
Não acham que é tempo de parar com isto? A roupa não acaba! Não entrem nessas lojas! Não há outra forma de os fazer mudar senão deixando de comprar, mostrar assim que não queremos que explorem seres humanos, muito menos crianças! Não é o fim do mundo para nós se tivermos que comprar noutros sítios! Mas acreditem que é o fim para estas crianças, assim que entram a 1ª vez numa fábrica, seja de roupa ou de brinquedos, seja do que for. Compactuar com estes crimes faz de nós criminosos, embora não queiramos admiti-lo porque custa aceitar isso. Mas se os milionários fomentam a escravidão Humana e nós recebemos de braços abertos tudo o que nos trazem, então estamos a aceitar que o façam. Enquanto compramos estas coisas, os milionários ganham e ganham e gastam por gastar, esbanjam, deitam fora dinheiro e as crianças que trabalham para eles, essas... passam fome e morrem. Procurem as etiquetas certas, aquelas que não vêm manchadas de sofrimento humano.

As vítimas da fábrica de roupa que a Primark vende, que ruiu em 2013:

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