sexta-feira, agosto 04, 2017

Os "furadores" implacáveis


Chamo furadores implacáveis àquelas pessoas que furam tudo. Filas de trânsito, filas de supermercados, filas é a cena deles e estacionamentos nem se fala, se observarmos os indicadores faciais veremos que são capazes de matar por um estacionamento.

Se eu me pusesse a contar tudo o que já vi e me aconteceu, tinha conversa até ao julgamento do Paulo Portas, um furador de primeira que passou a perna a todos com os submarinos, o que significa que eu ficaria aqui a falar até à eternidade.

Nesta selva de furadores, há apenas 3 tipos de pessoas, os que furam, os que tentam furar sem sucesso, e, os que são furados! Não digo que quem é furado é burro, não, é apenas a realidade, se nos passam a perna não há melhor forma de o dizer senão que fomos furados.

Nas filas de trânsito irrita-me sobretudo aqueles gajos que vêm até ao fim para se infiltrar na saída e aquele totó, há sempre um à nossa frente, que os deixa passar. Eu até sou uma pessoa que deixa passar toda a gente, gosto de levantar a mão e acenar com a cabeça "Faça favor", mas quando estou a fazer fila e vejo um espertinho a vir de longe, todo ligeirinho para passar toda a gente, isso não! Até porque na maioria dos casos são estes espertinhos que provocam as filas de trânsito!

Até as avós furam no trânsito, enfiam-se à nossa frente sem qualquer preocupação, o carro delas a abanar todo, como se estivessem no rally numa estrada cheia de buracos a fazer uma curva apertada, fazem-nos travar, desviar e, se buzinamos, ficam todas chateadas connosco e respondem com a nova regra de trânsito inventada por elas: "Sou mais velha e os mais velhos têm prioridade! Abre os olhos!" Mas no supermercado é que é, elas são velhinhas mas matreiras, olham-nos de lado mas ninguém vê, às vezes vão pôr o carro na caixa e vão buscar mais coisas, outras vezes pedem a alguém que segure o carro na fila enquanto andam a fazer as compras, outras vezes esperam simplesmente que quem está à frente vire a cara por uns segundos, para ultrapassarem rapidamente, mas são tão rápidas que deixam dúvidas sobre as queixas diárias das dores ciáticas!

Nem as grávidas, nem as que levam os bebés ao colo, se livram da praga das filas, porque as avós nem parecem avós ali, ficam possuídas pelo desejo fulminante de chegar à caixa e não querem saber de mais nada, nem ninguém! Mas é de se notar que em muitos sítios as pessoas fingem que não vêm as grávidas para não lhes cederem a passagem! No outro dia, fui a uma conservatória renovar o cartão do cidadão, mas nem quem está ali tem cidadania... Chegou uma grávida depois de mim e ficou à espera, eu disse-lhe que podia passar a fila, até porque têm lá aqueles sinais de prioridade para grávidas, a senhora agradeceu e passou, mas naquele mesmo instante ouço a voz duma mulher, num tom rouco e alto, de tronco liso como uma tábua a berrar: "Eu também podia estar grávida!". Podia, mas não está! Mediante a observação tão ignorante, apesar da minha vontade de lhe dizer umas, escolhi o silêncio, porque como já dizia a minha mãe "Vozes de burro não chegam ao céu", e não me vou cansar ou chatear com burros humanos.

O parque de estacionamento dos hipermercados, é o local ideal para encontrar este tipo de asnos. Todas as vezes que vou ao hipermercado, vejo sempre um ou uma a enfiar-se no estacionamento das grávidas. Nunca imaginei que houvesse tantas grávidas sem barriga, principalmente homens grávidos! Nunca há lugares de grávidas livres para as grávidas! Só aquele tipo de pessoal que gosta de grandes escapes e vidros fumados, ou aqueles casais que ainda não chegaram à terceira idade, nem estão tão perto assim, mas acham que terão mais dificuldade a empurrar o carrinho cheio de compras do que uma grávida quase a entrar em trabalho de parto. O que é certo é que a maioria dos carros ali estacionados não têm grávidas, nem cadeirinhas de criança, nem dísticos de pessoas portadoras de uma qualquer deficiência!

Um dia assisti a uma senhora grávida, que se dirigia para um desses estacionamentos, a ser ultrapassada, de frente, por um carro com um casal dos seus 50 e poucos, esperei para ver se algum deles estava a mancar ou grávido, mas não! Enquanto isso vi a grávida a sair de um estacionamento normal, com grandes dificuldades, a fazer um esforço enorme para conseguir sair do carro sem bater no carro ao lado, era mais fácil sair pela mala pensei, porque os estacionamentos nos hipermercados são feitos sem contar com o espaço para abrir as portas, só lhes interessa espaço para abrirem as malas para as compras, agora as pessoas que se lixem! Já por isso há os ditos lugares para grávidas ou famílias numerosas, porque no resto do parque, que representa 99,4%, os gajos do ordenamento territorial dos estacionamentos sabem bem que não há espaço para essas pessoas saírem do carro sem baterem nos outros carros!

Nesse dia, decidi intervir a favor da grávida, procurei um segurança, o que não foi muito difícil dado que consegui ver um através dos carros, muito alto e a patinar, fui ter com ele, afinal andava a passear o segway no parque. Expliquei-lhe a situação e pedi-lhe que falasse com os donos do carro, no estacionamento das grávidas etc e ele respondeu que compreendia perfeitamente mas eles não eram os únicos a fazer isso, havia muita gente a fazer isso e ele não podia fazer nada! BEM! ELE NÃO PODE FAZER NADA! Então para que servem os sinais nos lugares? Para que serve um segurança de segway num parque de estacionamento? Tenho a certeza que se alguém estacionar no lugar privativo do patrão dele, ele já pode fazer alguma coisa! Já vi colocarem autocolantes em parques de estacionamento por estacionarem onde não podem. Não podiam fazer um folheto para colocar no pára-brisas a dizer: "Caro cliente este lugar não é para si, por uma questão de cidadania ceda o lugar a quem lho pertence e de seguida venha fazer as compras que hoje estamos com excelentes promoções!". Qualquer coisa pá! Senão qualquer dia não há respeito nenhum! Regras para quê se ninguém as cumpre?

Esta semana passada assisti a uma discussão, da qual o segurança do segway fugiu, acelerando ao máximo para longe! Uma família de 3 + 1, o pai com um bebé ao colo e a mãe com outro dentro da barriga perguntavam a um casal de jovens, de calções justos pelo joelho, anéis em todos os dedos, boné pousado no topo da cabeça e um carro entre o tunning e o patchwork, se sabiam que aquele lugar era para grávidas e a resposta da rapariga aos berros espelhou tal e qual a nossa sociedade: "Se os outros fazem porque não havíamos de fazer?!", o homem chamou-a de burra, etc e continuou a argumentar. Mas ele podia ter respondido e muito bem: "Se outros espancam porque não hei-de eu espancar-vos também se me apetecer?!".

A cidadania não é obrigatória, mas devia ser!

Como cantava o António Variações:
"Quando fala um português
Falam dois ou três
Todos se querem escutar
Ninguém espera a sua vez
Ah! ninguém se quer calar"


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